Um avião que transportava o time de futebol da Chapecoense caiu na madrugada desta terça-feira na Colômbia, para onde a equipe viajava para disputar a primeira partida da final da Copa Sul-Americana contra o Atlético Nacional de Medellín.
Setenta e sete pessoas estavam a bordo, entre jogadores, jornalistas e tripulantes. Entre elas, 71 morreram e seis sobreviveram ao acidente. Informações iniciais davam conta de que 81 pessoas estariam no avião, mas quatro passageiros não embarcaram.
Equipes de resgate trabalharam durante toda a madrugada e as buscas se encerraram às 15h (18h em Brasília).
Segundo o responsável pela operação, Carlos Iván Márquez, da Unidade Nacional para Gestão de Risco de Desastres (UNGRD), “as buscas foram rápidas para minimizar a dor dos parentes das vítimas”.
A queda ocorreu em uma região montanhosa a 50 km de Medellín. Os corpos foram levados para um local montado dentro do Aeroporto de Olaya Herrera, onde se construiu um centro de emergência para concentrar os trabalhos das equipes de resgate.
A Aerocivil, órgão da aeronáutica civil colombiana, confirmou à BBC Brasil que as duas caixas pretas do avião foram encontradas em perfeito estado.
Entre os sobreviventes estão o goleiro Follmann, o lateral esquerdo Alan Ruschel, o zagueiro Neto e o jornalista Rafael Henzel, assim como uma aeromoça, identificada como Ximena Suarez, e outro membro da tripulação, Erwin Tumiri.
A Cruz Vermelha e a imprensa local confirmaram que o goleiro Marcos Danilo Padilha, conhecido como Danilo, não sobreviveu aos ferimentos. Ele havia sido resgatado com vida e seu nome chegou a ficar na lista de sobreviventes divulgada pelas autoridades de aviação civil colombiana.
Em entrevista à GloboNews, o médico responsável pelo Hospital San Juan de Dios, para onde foram levados alguns dos sobreviventes, afirmou que o goleiro Follmann teria tido a perna amputada, enquanto Alan Ruschell sofreu uma lesão entre duas vértebras e o esforço médico seria para que ele não perca os movimentos das pernas.
Neto, que foi encontrado em meio aos destroços do avião, precisou passar por cirurgias, assim como o jornalista Rafael Henzel.
Mau tempo dificulta resgate
O mau tempo na região tornou mais difícil o trabalho de resgate, que chegou a ser suspenso por causa da forte chuva – a Força Aérea da Colômbia informou que isso impediu o envio de um helicóptero militar para auxiliar nas buscas.
De acordo com a imprensa colombiana, o piloto do avião teria conseguido descartar todo o combustível para evitar uma explosão e tentar o pouso de emergência. A informação não foi confirmada pelas autoridades.
A aeronave partiu-se em três pedaços.
O avião, um RJ85 da companhia boliviana Lamia com 17 anos de uso, havia feito uma escala em Santa Cruz de La Sierra, na Bolívia, e seguia para a cidade colombiana.
Segundo um comunicado do Aeroporto José María Córdoba, de Medellín, a tripulação comunicou uma emergência por “falhas elétricas” por volta das 22h15 locais (1h15 de Brasília).
Competições suspensas
A Confederação Sul-Americana de Futebol anunciou a suspensão da competição e de todas as suas atividades esportivas.
O jogo marcado para esta quarta-feira seria o primeiro da Chapecoense em uma final internacional.
Após a tragédia, o Atlético Nacional de Medellín, que jogaria a partida contra a Chapecoense, fez um pedido formal à Conmebol (Confederação Sul-Americana de Futebol) para que o título da Copa Sul-Americana seja entregue ao time catarinense.
O clube já havia se pronunciado quando as informações ainda eram escassas.
“O Nacional lamenta profundamente e se solidariza com @chapecoensereal pelo acidente ocorrido e espera informações das autoridades”, afirmou no Twitter.
O secretário-geral da CBF (Confederação Brasileira de Futebol), Walter Feldman, anunciou o cancelamento de todos os campeonatos de futebol no Brasil e decretou uma semana de luto.
“Esta é a maior tragédia do futebol mundial”, disse Feldman.
Ele acrescentou que a CBF está enviando uma delegação a Chapecó e à Colômbia para ajudar na liberação dos corpos.
O presidente da Fifa (o órgão máximo do futebol mundial), Gianni Infantino, afirmou que este é “um dia muito, muito triste para o futebol”.
“Neste momento difícil, o nosso pensamento está com as vítimas, as suas famílias e amigos. A Fifa dirige as mais profundas condolências aos torcedores da Chapecoense, à comunidade do futebol e aos meios de comunicação do Brasil”, acrescentou Infantino.
Jogadores hospitalizados
O zagueiro Hélio Neto, de 32 anos, foi localizado com vida pelos bombeiros às 5h04 locais (8h04 de Brasília) e levado para o hospital San Juan de Dios, na cidade de La Ceja, na Colômbia.
A emissora colombiana Telemedellín mostrou imagens da chegada da ambulância com Neto ao hospital.
Também estava internado no San Juan de Dios o lateral-esquerdo Alan Ruschel, de 27 anos. Seu estado é “estável”, mas ele seria transferido porque sofreu várias fraturas nas pernas e na coluna que demandavam cirurgia.
A mulher do jogador, Amanda, falou sobre o estado de Ruschel no Instagram
“Graças a Deus o Alan está no hospital, estado estável. Estamos orando por todos que ainda não foram socorridos, e força para todos os familiares. Situação complicada, difícil. Só Deus para dar força mesmo”, escreveu.
Uma equipe da agência de notícias Efe acompanhou a chegada dele ao hospital em La Ceja. O jogador perguntava insistentemente sobre a família e pedia que guardassem sua aliança de casamento.
Chapecoense em luto
Em meio às primeiras informações sobre o acidente, a Chapecoense trocou seu escudo verde por outro preto na sua página no Facebook, na qual escreveu:
“Em função do desencontro das notícias que chegam das mais diversas fontes jornalisticas, dando conta de um acidente com a aeronave que transportava a delegação da Chapecoense, a Associação Chapecoense de Futebol, através de seu vice-presidente Ivan Tozzo, reserva-se o direito de aguardar o pronunciamento oficial da autoridade aérea colombiana, a fim de emitir qualquer nota oficial sobre o acidente. Que Deus esteja com nossos atletas, dirigentes, jornalistas e demais convidados que estão junto com a delegação.”
O clube brasileiro afirmou que fretaria um voo para levar uma comissão de médicos e advogados até a Colômbia.
3 dias de luto nacional
O presidente Michel Temer usou o Twitter e a hashtag “Força Chape” para lamentar o acidente.
“Nesta hora triste que a tragédia se abate sobre dezenas de famílias brasileiras, expresso minha solidariedade.”
“Estamos colocando todos meios para auxiliar familiares e dar toda a assistência possível. A Aeronáutica e o Itamaraty já foram acionados.”
“O governo fará todo o possível para aliviar a dor dos amigos e familiares do esporte e do jornalismo nacional”, tuitou o presidente do Brasil.
A ex-presidente Dilma Rousseff também tuitou sobre o acidente.
“Foi com grande pesar q recebi a notícia do acidente com o avião q transportava atletas do @chapecoensereal, jornalistas e tripulantes”, escreveu Dilma.
“Às famílias brasileiras atingidas por essa tragédia, presto minhas condolências e solidariedade. Estamos unidos nesse momento difícil.”
O prefeito colombiano Elkin Ospina, da cidade de La Ceja, que fica próxima ao local do acidente, foi até a região das buscas e disse que a prioridade era a busca por sobreviventes.
O diretor do departamento de Aeronáutica Civil da Colômbia, Alfredo Bocanegra, fez um apelo para que as buscas não sejam suspensas e que as equipes continuem mobilizadas.
O prefeito de Chapecó, Luciano Buligon, deveria ter embarcado no mesmo voo, mas acabou não indo porque teve um compromisso em São Paulo.
Ele lamentou o acidente e contou que seu nome estava na lista de passageiros por engano.
Homenagens no mundo do futebol
Em solidariedade à Chapecoense, praticamente todos os times de futebol brasileiros colocaram uma imagem do escudo do clube catarinense em preto como a principal nas suas páginas e perfis nas redes sociais, acompanhada da hashtag#ForçaChape.
O clube espanhol Atlético de Madri, que de 2007 a 2010 teve nos seus quadros um jogador da Chapecoense, divulgou mensagens de solidariedade no Twitter.
“Nossas condolências às famílias dos falecidos no acidente com o avião da @ChapecoenseReal. Descansem em paz.”
“Comovidos pelo acidente com o avião em que viajava a @ChapecoenseReal e o nosso ex-jogador Cléber Santana.”
O jogador Neymar homenageou os jogadores em uma postagem na sua página no Facebook. Ele publicou uma foto do escudo da equipe catarinense, a hashtag #ForçaChape e emojis de mãos em prece.
O atacante inglês Wayne Rooney também usou as redes sociais para lamentar o acidente.
“Notícia triste ao acordar hoje. Meus pensamentos estão com @ChapecoenseReal e suas famílias e amigos.”
Goleiro do Porto, o espanhol Iker Casilla, escreveu na sua conta no Twitter: “Minhas condolências pelo acidente de avião onde viajava a @ChapecoenseReal. Momento duro para o futebol! Muita coragem e força!”
Fonte http://www.bbc.com